sexta-feira, 6 de julho de 2007

Feiras e mercados


A prática secular dos mercados nos estimula a entendê-los como espaço das trocas, uma atividade de “mão na mão, olhos nos olhos” . Assim, tal empreitada cotidiana era marcada por uma certa proximidade íntima e informal entre o vendedor e seus clientes. No entanto, o termo mercado engloba não só o espaço destinado às trocas, mas também o hábito de comprar e vender as chamadas mercadorias. A palavra “mercado”, no início do século XIX, era usada de forma genérica, designando uma aglomeração de pessoas com o intuito de comercializar determinados produtos no mesmo local. Alguns espaços de comércio informal, além de figurar em novos interesses nos poderes públicos, agora também estão vinculados a um potencial turístico. Como característica destes tópicos apontados, temos, agora: gás, luz, telefone, sistema contra incêndio, espaços fixos de lojas com coberturas padronizadas em lonas tensionadas de laminado em pvc (como as utilizadas em shoppings da cidade), banheiros para o público (por um real), palcos para shows. O espaço onde funcionava anteriormente a feira transforma-se em estacionamento, todo cercado pôr gradis. Cria-se, desta forma, uma feira intramuros. Com isso, se destacam características higienísticas, organizacionais, estéticas e de segurança. No projeto de renovação contempla-se, também, que em vez de funcionar apenas nos finais de semana, a feira passará a abrir de terça a domingo. No século XIX, os mercados eram descritos e retratados pela estrutura das barracas, a forma de armazenamento das mercadorias, o jeito de organizá-las, o depósito dos cestos no chão, etc. Com estas características, temos contato com a idéia da informalidade que geraria as atuais estruturas de feiras e mercados informais. Estas características podem ser vistas ate hoje em feiras como a de Caruaru, em Pernambuco; a feira de São Joaquim, na Bahia; o mercado Ver o Peso, em Belém, e até mesmo a feira de Caxias, no Rio de Janeiro. Outro tópico comparativo é a valorização da celebração. Desde a escravidão o mercado informal era uma das únicas possibilidades de encontros e comemorações, vinculava-se então a esta atividade a possibilidade do encontro entre pessoas que estavam à margem da sociedade estabelecida. Nos mercados, escravos libertos e “negros de ganho” podiam estar juntos lembrando de suas histórias, celebrando sua terra natal, ou mesmo falando de suas atuais realidades. Era comum nestes grupos, que a música e a dança fossem por rituais ou por pura celebração. Hoje, o mercado continua a valorizar a celebração coletiva. Nestes espaços a música e a dança continuam a ganhar destaque. Transforma-se assim em um dos principais espaços de sociabilidade e lazer. Ao perceber o potencial turístico de espaços de comercio informal, como a antiga Feira dos Paraíbas, o poder público passa a se interessar por estas atividades. Cidades como Rio de Janeiro, Belém do Pará, e Recife, dentre outras, têm estes espaços urbanos revitalizados por iniciativa deste poder público. Outro fator de destaque é a reestruturação estilística dos locais, equipando-os de coberturas e modernos mobiliários urbanos. A arquitetura vem sendo usada para encapsular, através de suas elaboradas estruturas fixas, estas atividades informais dos mercados, que na maioria das vezes, eram praticadas em espaços efêmeros. Ao analisarmos a estética arquitetônica e os métodos construtivos utilizados nestes espaços, uma linha condutora parece permanecer ao longo de toda história urbana, a saber, a arquitetura de ferro. Mesmo no Mercado da Candelária de Grandjean de Montigny, projetado em pleno período neoclássico, são adicionadas, a esta edificação, barracas de ferro cobertas com lona impermeável, destinado a produtos oriundos de pequenas lavouras. Nos tempos atuais, percebemos que nos vários projetos de revitalização arquitetônica de mercados informais, pode se destacar a permanência da estrutura metálica só que agora não mais aliada ao vidro e sim a modernas lonas tensionadas feitas de novas fibras têxteis. Estas construções nos remetem às antigas tendas efêmeras, só que agora transformadas em estruturas fixas. As tendas, associadas à construção arquitetônica mais primitiva e natural, acompanharam a história da evolução do ser humano e continuam, hoje, a ter um papel significativo. Com o uso destas modernas lonas tensionadas, os arquitetos parecem, tentar minimizar o conflito gerado na troca das antigas e efêmeras, construções precárias de barracas de madeiras cobertas com lonas substituídas por uma arquitetura fixa que dava ao espaço um novo caráter com a legalidade. Para ilustrar temos os exemplos do CLGTN; Mercado Popular da Rocinha; Mercado Ver o Peso, etc.
CLGTN, São Cristóvão, Rio de Janeiro.

2 comentários:

Unknown disse...

fernanda, gostaria de saber se a autoria desse artigo é sua? tenho interesse em utilizá-lo e um trabalho científico.aguardo resposta. jolsv@htmailcom

Unknown disse...

OOI!
Eu também gostaria de saber as origens bibliográficas desse texto! Teria como você indicar os autores nos quais você se baseiou?