domingo, 8 de julho de 2007

A inconstância dos bens do mundo

"Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.

Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se formosa a Luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?

Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.

Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância. "
Gregório de Matos

Motivo

"Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei.
Não sei se fico ou passo.
Sei que canto.
E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada."
Cecília Meireles

sábado, 7 de julho de 2007

Pelos textos lidos a respeito desta, vimos que as arquiteturas efêmeras realizadas em eventos urbanos podem proporcionar ambientes renovados e festivos em nossas cidades. São as que, em síntese, provocam menor impacto porque os prazos de sua existência são limitados e são removidas dos lugares que ocuparam devolvendo-lhes suas condições originais. Nesses projetos são revistos os mecanismos e os sistemas tecnológicos móveis e desmontáveis com alto grau de reaproveitamento de materiais e otimização de recursos, o que diminui tanto o seu custo como o impacto ambiental.

"Uma das meias cidades é fixa, a outra é provisória e quando termina a sua temporada, é desparafusada, desmontada e levada embora, transferida para os terrenos baldios de outra meia cidade. [...] A cidade de quem passa sem entrar é uma; é outra para quem é aprisionado e não sai mais dali; uma é a cidade a qual se chega pela primeira vez, outra é a que se abandona para nunca mais retornar...”

As cidades invisíveis , Ítalo Calvino

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Feiras e mercados


A prática secular dos mercados nos estimula a entendê-los como espaço das trocas, uma atividade de “mão na mão, olhos nos olhos” . Assim, tal empreitada cotidiana era marcada por uma certa proximidade íntima e informal entre o vendedor e seus clientes. No entanto, o termo mercado engloba não só o espaço destinado às trocas, mas também o hábito de comprar e vender as chamadas mercadorias. A palavra “mercado”, no início do século XIX, era usada de forma genérica, designando uma aglomeração de pessoas com o intuito de comercializar determinados produtos no mesmo local. Alguns espaços de comércio informal, além de figurar em novos interesses nos poderes públicos, agora também estão vinculados a um potencial turístico. Como característica destes tópicos apontados, temos, agora: gás, luz, telefone, sistema contra incêndio, espaços fixos de lojas com coberturas padronizadas em lonas tensionadas de laminado em pvc (como as utilizadas em shoppings da cidade), banheiros para o público (por um real), palcos para shows. O espaço onde funcionava anteriormente a feira transforma-se em estacionamento, todo cercado pôr gradis. Cria-se, desta forma, uma feira intramuros. Com isso, se destacam características higienísticas, organizacionais, estéticas e de segurança. No projeto de renovação contempla-se, também, que em vez de funcionar apenas nos finais de semana, a feira passará a abrir de terça a domingo. No século XIX, os mercados eram descritos e retratados pela estrutura das barracas, a forma de armazenamento das mercadorias, o jeito de organizá-las, o depósito dos cestos no chão, etc. Com estas características, temos contato com a idéia da informalidade que geraria as atuais estruturas de feiras e mercados informais. Estas características podem ser vistas ate hoje em feiras como a de Caruaru, em Pernambuco; a feira de São Joaquim, na Bahia; o mercado Ver o Peso, em Belém, e até mesmo a feira de Caxias, no Rio de Janeiro. Outro tópico comparativo é a valorização da celebração. Desde a escravidão o mercado informal era uma das únicas possibilidades de encontros e comemorações, vinculava-se então a esta atividade a possibilidade do encontro entre pessoas que estavam à margem da sociedade estabelecida. Nos mercados, escravos libertos e “negros de ganho” podiam estar juntos lembrando de suas histórias, celebrando sua terra natal, ou mesmo falando de suas atuais realidades. Era comum nestes grupos, que a música e a dança fossem por rituais ou por pura celebração. Hoje, o mercado continua a valorizar a celebração coletiva. Nestes espaços a música e a dança continuam a ganhar destaque. Transforma-se assim em um dos principais espaços de sociabilidade e lazer. Ao perceber o potencial turístico de espaços de comercio informal, como a antiga Feira dos Paraíbas, o poder público passa a se interessar por estas atividades. Cidades como Rio de Janeiro, Belém do Pará, e Recife, dentre outras, têm estes espaços urbanos revitalizados por iniciativa deste poder público. Outro fator de destaque é a reestruturação estilística dos locais, equipando-os de coberturas e modernos mobiliários urbanos. A arquitetura vem sendo usada para encapsular, através de suas elaboradas estruturas fixas, estas atividades informais dos mercados, que na maioria das vezes, eram praticadas em espaços efêmeros. Ao analisarmos a estética arquitetônica e os métodos construtivos utilizados nestes espaços, uma linha condutora parece permanecer ao longo de toda história urbana, a saber, a arquitetura de ferro. Mesmo no Mercado da Candelária de Grandjean de Montigny, projetado em pleno período neoclássico, são adicionadas, a esta edificação, barracas de ferro cobertas com lona impermeável, destinado a produtos oriundos de pequenas lavouras. Nos tempos atuais, percebemos que nos vários projetos de revitalização arquitetônica de mercados informais, pode se destacar a permanência da estrutura metálica só que agora não mais aliada ao vidro e sim a modernas lonas tensionadas feitas de novas fibras têxteis. Estas construções nos remetem às antigas tendas efêmeras, só que agora transformadas em estruturas fixas. As tendas, associadas à construção arquitetônica mais primitiva e natural, acompanharam a história da evolução do ser humano e continuam, hoje, a ter um papel significativo. Com o uso destas modernas lonas tensionadas, os arquitetos parecem, tentar minimizar o conflito gerado na troca das antigas e efêmeras, construções precárias de barracas de madeiras cobertas com lonas substituídas por uma arquitetura fixa que dava ao espaço um novo caráter com a legalidade. Para ilustrar temos os exemplos do CLGTN; Mercado Popular da Rocinha; Mercado Ver o Peso, etc.
CLGTN, São Cristóvão, Rio de Janeiro.

Alguns projetos dos achigram ligados à arquitetura efêmera

Cushile ,1966-1967


É um estudo de morada móvel. Ela foi feita por Mike Webb. A cushile era mais compacta que a living pod. Ela é uma morada provisória ideal para quem trabalha em serviços de entidades de pesquisa, proteção e desenvolvimento ambiental em floretas de difícil acesso e imprescindível para aquele que precisa explorar desertos. Dobrável e desdobrável ela pode ser levada pelo viajante de carro e até mesmo a pé, com o mínimo de esforço. Ela é constituída basicamente por duas partes principais: o chassi e o envoltório. O chassi é feito de armaduras infláveis e desdobráveis que servem para estrutura-lo. Já o envoltório é uma casca feita de lona especial que funciona como uma tela de proteção. Os dois se encontram juntos. Quando desdobrados encontra-se um assento reclinável que pode ser inflado. Junto com o cushile o viajante pode levar diversos acessórios, para se comunicar e se divertir.

Walking City ,1964


A Walking City ou Cidade Andante, feita por ron Herron, é uma arquitetura sem fundações e raízes. Ela é constituída por diversos containers com pernas tubulares que se deslocam pelo solo e, até mesmo, pela água. Uma cidade sem local fixo, uma mistura de nave espacial com submarino. A sua forma derivou de uma mistura entre inseto e máquina. Ela, de fato, por ser bastante complexa, era uma proposta que dificilmente seria construída.




Instant City ,1968

Esse projeto foi lançado com o apoio financeiro do Graham Fondation for Advanced Studies in Art de Chicago. O projeto propunha uma espécie de arquitetura móvel que ofereceria uma série de eventos e de informações culturais que seriam levadas as cidades distantes das metrópoles. Uma espécie de circo coberto por lonas, erguidas por balões , levando entretenimento, e tal como o circo surgiria do nada e depois desapareceria.
Uma complementação da cidade, que supriria e traria novas atividades para a pequena cidade, integrando-se a ela. Ela, portanto, funcionaria como um sistema complementar, articulador e dinamizador de todo o processo urbano.

Influências do Archigram

O crítico norte americano Michael Sorkin definiu as influências do Archigram como uma combinação da herança da engenharia britânica- Crystal Palace, the Dreadnought, the Spitfire, the Forth Bridge e o trabalho de Isambard Kingdom Brunel- com o idealismo de Buckminster Fuller'sm e as imagens dos quadrinhos da Warvel Comics e o Eagle, Mecano, , sci-fi films, música pop , parques de diversões e a arte Pop . “ Encantado através de fantasias nômades, Archigram discutiu uma arquitetura baseada em mobilidade e maleabilidade pudesse deixar as pessoas livres,” ele escreveu. “Esta noção de escolha do consumidor combinando tecnologia aperfeiçoada, a sensação de liberdade e os estilos vertiginosos de adaptação que achou em Detroit .” Eles foram bastante influenciados pelo universo pop da TV, dos quadrinhos pela Escola Bauhaus, mas também em movimentos como o Futurismo e por duas idéias políticas - aparentemente contrárias e pouco discutidas em grande parte dos sites que falam sobre o grupo - o socialismo/comunismo e o capitalismo. No Archigram, houve, indiretamente a influencia de algumas idéias socialistas Os projetos de Peter Cook, por exemplo, visionavam uma sociedade onde todos viviam em casas móveis (Instant City, 1968), mostrando uma relação entre mobilidade e liberdade. Essa idéia de ambientes em movimento potenciaria as comunidades a evoluírem a sociedades com nenhuma diferença entre classes, sem subúrbios ou áreas privilegiadas, já que todos ricos ou pobres teriam a mesma cápsula para morar. Entretanto, sabe-se da experiência que as pessoas brevemente arranjariam outras maneiras de mostrar riqueza e ascensão social. Uma crítica desse modo de viver, como também o próprio comunismo, é o sistema em que não há possibilidades, ou melhor, falta de oportunidades para a expressão individual, já que todos eram obrigados a ter a mesma casa. Na China, na União Soviética do século XX, por exemplo, o socialismo resultou em estruturas de poder dirigidas, onde os benefícios são àqueles que estão no topo da sociedade, em que “alguns são mais iguais que outros”. Também poderia ser argumentado que as noções de individualismo no capitalismo não são consideradas nas políticas. Certos elementos do capitalismo estão nos projetos de Archigram. Na Walking city (cidade andante), de Ron Herron, em 1964, ao deixar os trabalhadores perto dos seus locais de trabalho (a cidade se movimenta), e, conseqüentemente, ser bem mais rápido o trajeto da casa para o trabalho, sem preocupação com tráfico ou congestionamento, a produtividade aumentará. O empresário, portanto, terá mais lucros. Há o mascaramento de que o simples fato de ter um caminho para ir ao trabalho corresponda, de certa forma, a liberdade. O grupo mostra em seus projetos que o nomadismo é a força dominante, onde consumismo, estilo de vida e transitoriedade se tornam o programa, em que o tempo, troca e metamorfose permanecem intactos . Como os capitalistas, as suas idéias estiveram baseadas na necessidade de ganhar dinheiro e serem competitivos. O grupo Archigram pensa em livrar o mundo das tradições colocando novas propostas, mas não destruindo as antigas. Seus projetos tinham um caráter efêmero, para depois alguém fazer um melhor e substituir o antigo. Enquanto o futurismo ficou mais no âmbito das idéias da época, o Archigram fez propostas para mudar alguns aspectos do período, até mesmo que é bastante problemático e grave destruir de forma radical o passado. Ambos tinham a mesma obsessão pelo futuro. Um futurista que fez uma proposta em nível de projeto foi Antonio Sant'Elia,aproximadamente em 1914, com o título de New City. Por isso, alguns dizem que o Archigram é neofuturista.

Archigram

Em um período de pós-guerra, em que muitos países do primeiro mundo entravam em expansão econômica e tecnológica, impulsionando o desenvolvimento dos meios de comunicação e transporte. Onde as políticas de conquista espacial, o crescimento das redes de telecomunicações via satélite, o surgimento da computação,robótica, a proliferação de eletrodomésticos, tal como a televisão, visavam garantir o bem estar da população. Tudo isso, também fomentado pelo período da Guerra Fria, na luta entre dois sistemas: o capitalismo e o socialismo, em que houve a competição tecnológica e a instabilidade de uma terceira guerra mundial, com artefatos nucleares, que, conseqüentemente, poderia destruir num piscar de olhos milhares de cidades. Essa é a década de sessenta, onde um certo número de arquitetos via na arquitetura funcional da época um artefato obsoleto, já que não utilizava em boa parte os elementos tecnológicos atuais, mantendo a tradição, ou melhor, os antigos estilos arquitetônicos, como, por exemplo, o neogótico. Eles queriam, portanto, uma total transformação da disciplina arquitetônica. O Archigram foi um dos primeiros grupos a fazê-lo. O grupo Archigram é composto por seis arquitetos ingleses: Warren Chalk, Peter Cook, Denis Crompton, David Greene, Ron Heron e Mike Webb, que funcionou nos anos sessenta até o final da década de 1970. Archigram é o nome de um manifesto que eles colocaram em um cartaz. Arch significa arquitetura e gram telegrama. O nome era portanto a fusão da palavra arquitetura com a rapidez e agilidade de um telegrama. No cartaz dizia: “foi fundado um manifesto com idéias dinâmicas de uma nova arquitetura”. A idéia era lançar uma publicação que fosse mais simples e ágil que uma revista. Esta publicação mesclava projetos e comentários sobre arquitetura com imagens gráficas, cuja referência vinha do movimento pop da TV, do rádio e das histórias em quadrinhos. A linguagem utilizada na programação visual da revista era a da bricolage, através da colagem e justaposição de desenhos técnicos, artísticos, fotomontagens e textos. A cor também era um recurso utilizado: cores fortes, vibrantes eram usadas na comunicação dos projetos e idéias do grupo. Tudo isso era uma critica radical e irônica e radical as convenções e aos procedimentos utilizados. São questionamentos que mostram a reação contra a obviedade e a monotonia no processo de criação arquitetônica. No manifesto era também incluídos trabalhos de alguns convidados, de estudantes, tais como John Outram, Steve Osgood, Nick Grimshaw, novos arquitetos e engenheiros, como Helmut Richter, Hans Hollein, Arata Isozaki, Frei Otto, Yona Freidman e Cedric Price. Foi Hollein que escreveu , em 1964, o conceito do grupo: ‘arquitetura como um meio de comunicação'. Desta maneira a comunicação extendeu-se a exposições, poemas, escrita, conferências e ensino. Mas a comunicação das idéias era principalmente difundida no desenho :‘a matéria está no desenho'. Eles idealizaram arquiteturas que se fundamentavam em idéias e princípios que estavam relacionados às transformações provocadas pela tecnologia. Em seus projetos eles utilizavam materiais bastante atuais, que nenhum arquiteto havia experimentado, provocando uma reação entre os arquitetos mais conservadores. Seus projetos procuravam antever e moldar o ambiente futuro, com propostas criativas nas quais a realidade se encontrava com o domínio da ficção, uma espécie de fronteira entre o real (realizável) e o utópico. “Era um conjunto de idéias, imagens e objetos inspirados nas múltiplas possibilidades entreabertas pela ciência e alta tecnologia da era espacial. ”(Vitruvius, matéria de Marcos Sólon Cretti da Silva). Alguns de seus projetos arquitetônicos experimentais, ora afundavam-se, emergiam da água como glóbulos, ora voavam como foguetes lunares. Ou ainda, os habitantes se teletransportavam para outros lugares como também o projeto poderia ser desdobrado em diversos módulos, podendo ser carregado por uma pessoa, reduzindo, conseqüentemente, o espaço construído e gerando a mobilidade do homem moderno, que já não tinha mais um local fixo. O objetivo do grupo não era somente alterar o modo de como as pessoas encaram a arquitetura, mas sim mudar a realidade como um todo: no âmbito social, político e psicológico da sociedade. A primeira edição, em maio de 1961, foi chamada de ninepence. Eles venderam trezentas cópias, principalmente para estudantes e assistentes de escritórios de arquitetura.Como Cook recordou, ‘”não foi protestado aos arquitetos seniores que igualavam os estudantes a uma piada e...todos pensaram que eles morreriam em uma morte natural”. Pela nona edição, em 1970, foi vendido mais de 5000 exemplares em diversos países. No manifesto continham projetos revolucionários, tais como Instant City, Walking City, Plug-in and Computer Cities, ambas cidades móveis, a fim de responder ao estilo de vida mutante do indivíduo, pela escassez de materiais como o petróleo, até mesmo pelo clima de medo e insegurança gerada pela Guerra Fria. Ao final dos anos sessenta, a revista de Archigram estava vendendo milhares de cópias e tinha publicado o trabalho de arquitetos como Nicholas Grimshaw, Arata Isozaki, Hans Hollein e Frei Otto, que eram também sócios do grupo. Em 1969, o grupo que, até lá, tinha ganho Colin Fournier e Ken Allison, abriu uma pratica arquitetônica depois de ganhar uma competição para projetar um centro de lazer em Monte-Carlo. O projeto era de uma cúpula circular enorme enterrada no mediterrâneo. Os assentos, banheiros e luzes estavam montados sobre rodas para serem movidos ao redor da edificação em configurações novas quando o uso do edifício mudar. A economia entrou em colapso e o centro nunca foi construído.



História do grupo Archigram contada por Peter Cook (www.archigram.net.)



David green, Warren Chalk, Peter Cook, Mike Webb, Ron Herron,Dennis Crompton Imagem de Peter Cook